Friday, December 26, 2014

.mais.



esta doce ilusão traída
viram-se avesso contrastes e idas sem saída
foram cercas que puseste em torno de ti
vogaste ao rubro milhões de anos
noutra vida caçaste aves douradas
vendias as penas ao desbarato
na certeza de viveres para sempre
anos e anos
saltastes estacas onde tropeças hoje
caminhante na lucidez que te faltava
e numa queda demente arranhaste o céu na petulância
que foste
e agora
agora és uma inútil pegada
mais uma
no chão que percorreste em fugidios amores cautelosos
na traição emoldurada soltas gargalhadas
cobiçaste a vida sem 'nim' e assim assim
nem isto nem muito ou pouco
eras tanto
e tanto te eram eles
os outros
caminhas tonto no carreiro da fuga de ti
e a vida é isso
é isto
virado do avesso
um desencantamento ausente atordoado em faltas
em certezas de ser mais
quase tudo
jamais nada
nada se impõe neste rubor de despedidas
e olás que saltam à vistas em fugazes olhares
espelhos
ilhas que se tocam e seguem
o rumo das ondas e das marés
e amanhã
numa outra vida
serás mais
que esta doce ilusão traída.


Wednesday, December 03, 2014

.vão.


photo from here

Fica sem
uma única palavra ignóbil
do sentir
chaves que gritam
em janelas entreabertas são
chagas abertas a suspirarem
ao relento

Habita a
imensidão de sentidos
refeito em enleites
de futuros sorrisos
e saudosas alucinações

Encanta o
contraste a contraluz rarefeito
que se queda
em abruptas suspensões
de menires e caiares d'outrora
entorpecidos demoram.

Vem
num vagaroso suspiro
de rebate
embates em tonturas
esquecidas
calam dementes vogais
abraços consoantes em
sonantes
perdições

E nos dias amanhecidos
adormecidos sem demora
escutas os passos que vogam
lá fora
perdidos no andar rumo
incerto na certeza de ir
e vais ficando
pernoitando nas noites
regaladas brilham lascivamente
no soturno vão sonhador
que abandonaste por amor.


Tuesday, October 28, 2014

.queda livre.



há subúrbios decadentes onde te escondes
a correr atrás do inimigo
passadeiras estáticas a trazerem-te ao ponto de partida
iludido pela razão
dás a mão sem escolha
tiveste
chão

em palavras mansas enternecidas
embrulhaste doces roubados
na esquina perpetrada pela luz dos dias
trancado a sete chaves sorriste
levianas tentações
enganos ao desbarato
feitos espinhos
rosas escarlate
em suspiros de alecrim
tatuados na pele tépida que abraças

há subúrbios gemidos de ti
encerrados a cadeado
perdem os dias
soluçam perdão
como lacaios súbditos que s'arrastam
p'la cidade neutra em cor
sem cor
sons trepidantes em tonturas
vertigens de ti esbarram em muralhas
pedra a pedra desconstróis o túmulo
jazigos de outrora encerram orgulhos
do que foste

e subiste ao cume mais alto da cidade
onde o vazio te invade
mais uma vez
e outra
talvez hoje
amanhã
talvez depois
peças
perdão
mas hoje não
há subúrbios decadentes onde te escondes.


Saturday, October 18, 2014

I can take the World in my hands




i can take the world in my hands
e nos meus bracos ser
um futuro sonhado
dia a dia
no passo cambaleante
dia a dia
firme e inerte névoa de semblantes fechados
vapores em esgares sorrisos
na manhã de um anoitecer tardio
em horas desavindas com o tempo

i can take
i can take the
i can take the world
hoje
e talvez amanhã
amanhã
acordar nos teus braços
perpetuar juras de amor eterno
em ternuras ditas no vagar dos dias
interrompidos pelas chuvas intermitentes
intermitentes
chuvas
a embalar sentidos
palavras doces sussuradas ao luar
pernoitas de longínquas manhãs

i can
i can take
you in my world
hold you
hold you in my
abracar-te assim ficar
suspender os segundos que correm sem pressa nas horas que contam minutos
sem contar
inconscientes criaturas mecânicas
lânguidas cores nuances de som

i can
we can take
You can take me
in your...
hold
hold on
hold on me
hoje amanhã e depois
sermos danças de sombras perenes
adivinhas de mistérios que não
existem
em braços de abraços que protegem
do frio
acalentam amores maiores
como eu
e tu
no jardim abandonado
só nosso
só jardim
nosso
e sabes
o baloiço de ontem
foi hoje teu
meu
e sabes
o que perdi ontem
encontrei
na manhã
vadia vereneante perde-se no dia
e a noite cai
sem mim
mas
i could
i could take
tu sabes
o mundo
teu
de norte a sul
meu
foi ontem talvez amanhã
e hoje
só hoje.


Thursday, October 16, 2014

.per.te(n)cer.

©Peter Nestler


e sou pela liberdade
a incessante ilusão do primeiro mundo
terceiro som inaudível da ilusão
e sou pela liberdade
encarcerada jaz dormente
cunhas de milenares paixões
em saltos de invernos caídos
imersos na lívida sensação
de estar
estás
ali algures na pétala caída
folha outonal perpetuada na tua glória
e apregoas tentações
desacreditadas no dia a dia fundido de maleitas
que tais brutais pontuações
em jogos e cantigas de amigo
um
dois
volta e meia cai
três quatro
lê a fuga do chão
a porta no chão
 encerrada
perda de luzes acesas noites por apagar
apaga os vultos da lembrança
longas conversas de luares inauditos
erguidos reis e rainhas

e sou pela liberdade
porque piso este chão encerado
de madeira pinho raro da Patagónia eleita
e ergo o estandarte do não ser
a ser por completo
poema por terminar
como prosa que se assemelhe a
música galgada de espanto
notas a contra senso
contrabaixos ecos
ecos...

e sou pela liberdade
do senso comum que não existe
existe por aí e talvez aqui
em cartas escritas
sem selo
de colecção
e sou pela liberdade
como gota a gota flamejante
tropeça no vão derrame de
verborreia dos sentidos
mas
tu és pela liberdade
e cantas ao acordar
histórias de adormecer
embalas sentidos
promessas feitas
noves fora
tudo
mas sou
somos
fomos
liberdade
somos
chão de notas outonais
folhas cadentes invernais
a gritar glória a vós
risos discretos na foz
calibrada em modo platina
medalhas em pódios vazios
na cidade
a incessante ilusão do primeiro mundo.


Sunday, September 28, 2014

A porta 30 e um




As ruas da cidade
descartável e idónea
desconfiada e latente
diletante enfartamento de louvores
vénias de muletas
em montanhas russas
congelam
jogos de cabra cega
mentem na contagem
decrescente
10  5  3  1
- aí vou eu -
e escondes
a verdade em falácias
filosofias vãs
crês que o chão que pisas
te mente
e saboreias a vontade de ficar
vais
saiste algures na porta 30
e um
labaredas congelam vitórias
mínimas
no mínimo
- prego a fundo - derrapas
vira à esquerda
segue
na encruzilhada a sorte
dois mais três
seis
menos tu
um
e todas as estradas têm um fim
algumas avisam-te
- pára -
outras sussurram ocos milénios

Nas ruas da cidade
não há silêncio que grite
luas novas de velhas máximas
- todas as estradas são ocas -
loucas desenfreadas em embaraços
como as palavras
caladas
a ecoar húmus defuntos

Não vês o chão que pisas
e na vontade de ir
ficas

As ruas da cidade
são vénias de muletas
a aplaudir fugazes louvores
como um filme mudo
na penumbra de salas vazias.

Monday, September 08, 2014

.infinit.um.



.há um sonho de menina
à esquina da memória
a sussurrar silêncios
como miragens
em dias de chuva
arco íris escapam
fugazes
escuta
o eco dos teus passos
a chegarem
cumes de engodos fogem
algures
em algures feitos aqui e aí
jogados à sorte de um
qualquer pensamento
diz baixinho
não
ouço
mas sussurra
a pernoita que sentes
vem
traz o calor
dos teus braços
em abraços que não
findam
como o tempo que corre
areia que nos cai
entre dedos que entrelaçam
memórias
e sorrisos
e ditos não ditos
que dissemos algures
sem algures
no cerco infindo da memória

não te
ouço
sussurra
pernoitas
em sentidos
cala o frio que jaz lá fora

fora
vem.


Monday, August 11, 2014

.bruma.



há dias de silêncio
encoberto
como o nevoeiro que acordou
me acordou hoje

semicerrados
olhos que se fecham
saboreiam a bruma
da memória que foi
sem nostalgia
ressentimentos como caixas de chocolates
a perder as horas ao frio
no frio que tacteia
me tacteia
a percorrer o corpo inerte
imóvel movimenta mundos
e o teu sorriso fechado
sem sorriso que ilumine os dias

foram noites de lua cheia
a iluminar olhos semicerrados que não vêem
já não vêem

não quero
quis ser maior nos teus braços
como criança a adorar o primeiro amor
como o último
primeiro beijo
sem ser último
mas o fim sabe a silêncio
em dias de nevoeiro
acordam dormentes
os corpos
a mente mente
a desmentir calúnias
e tendenciosas ternuras ditas
que não se sentem
foram abraços dados ao frio
de caixas de chocolates a verem passar o tempo
imenso e tão curto
como noites de trovoada
a rugir em nós

semicerrados
olhos que se fecham
saboreiam a bruma
em nevões de ténues silêncios
somos vento que limpa as ruas
detritos que se afastam
e canções de embalar aninhadas no sofá
ao sabor da eternidade que fica
somos
vales encantados das histórias infantis
e seres inanimados a sorrir ao relento.





Monday, June 30, 2014

.som.

©photo: Rui Palha

.escuta
o silêncio
onde te guardo
em mim
onde te trago
enclausurado em gritos imundos
de ti
mas
escuta
o silêncio
feito reticências
de parágrafos suspensos
os sorrisos
e a porta que range
aberta
são rascunhos de tinta permanente
que me cerca
em leituras de voz alta
ecoam espaços
entre passos
descompassos
foram fracos cadeados
em explosões d'embaraços

.escuta
o silêncio
onde te trago em mim
parou
os segundos no relógio
de pulso
que desfalece
tonturas
de loucuras d'abril
mas
esquece
o ar pesado lá fora
em nuvens violetas em flor
cantam as bodas de Fígaro
à tua passagem

.e na calada da noite
onde o silêncio jamais cabe
rugem portas entreabertas
como braços que recolhem
corpos idos do amanhecer.


Wednesday, June 11, 2014

.solúvel.



.correm andantes caminhantes
perdidos que vagueiam
alternes de questões embaraçadas ao vento

.quedam mudos
escolhas
que ferem erguem
frágeis acenos rua fora
seguem
faces que vêem
não vêem
escadas estranhas caídas
muralhas como
cadeados abertos à espera
da chuva que tolhe
rubros enlaces

.foram noites dias sábias
palavras tropeçam beijos
acesos na bruma que cerca
entre toques calores de ocasião
embrulhos de oferta sem dono

.correm andantes perdidos
vagas
alternes
a despeito em olhares de rubro deleite

.correm vultos
acodem
erguem acenos
serenos
abraços
estilhaços que fogem no encantamento
do sim
como sinais que se colhem
ao longe

.o mar
e tu
tombaste no caminho
meu
foste sereno encantamento
que não se
não sonha
vidas cruzadas
perplexas
em notas sustenidas ao luar
como
faces que vêem
não vêem
vêm

faces que te olham
corrompidas pela memória
não vêem
não.


Saturday, May 17, 2014

.cinza.




.o vento ruge lá fora numa dança feroz. contra. encontra tempo. solta-se. uma angústia. apertos de outrora. acordados novamente p'la chuva que cai. olhos que se fecham não querem. e o vento ruge lá fora como o rumo dos ponteiros a seguir caminho. para a frente. andam. caminhos. buscas de olhares avessos. reflexos que não se ouvem. clareiam memórias. e silêncios. novamente. o silêncio e a memória que não finda. papéis soltos vagueiam ao toque na penumbra dos dias suspendem respirações em falta que faltam. preenchem espaços vazios. novamente vazios. a entreterem esperanças como crianças que brincam despreocupadamente e adormecem no teu colo. dão-te colo. novamente colo. e murmúrios de vozes acesas de candelabros oxidados toldam as horas. e a chuva cai. como pétalas caídas que não voltam a ser. não volto. revolver a penumbra das cinzas que abandonaste. guardaste na caixinha de cobre reluzente a acumular pó. pó mais cinza. cinza como pó. tu cinza. 

.e o vento lá fora ruge com maior intensidade vogam as folhas de papel jamais escritas ao sabor do presente sem presente que se dê. não me dou. novamente não me dou. e a porta fecha-se. sozinha. dentro de mim a tempestade trovões e luares encarniçados esbugalhados olhares comem torrões de acúcar para entreter o tédio. ébrio desfalque na enseada feita razão em corações que já não. já não suportam sustos de ventos a rugir marés tumultuosas que gemem. 

.cortinas esvoaçam numa dança a dois. os pares. sempre os pares. a dois. novamente a dois. díspares encruzilhadas e lamentos desnecessários. seguem as horas paradas do relógio inalterado p'la chuva da memória. chove lá fora digo. está frio. vento. portas a bater marcam os segundos e o tempo que não existe. não existes. sabes. o ar que não sentes inspira-te exaltações. e feres a vista com desaires imaginados. feres. não sentes. novamente não sentes. como pétalas caídas que não voltam a ser. não volto. tu cinza. cinza como pó. que o vento leva agora.






Monday, April 21, 2014

.spin.(ing).



.ten
ta
num segundo alcançar
a vida
ar
risca
arrisca o alcance do olhar
de fugas escapes de memórias
vagar
devagar colheste os frutos
maduros
de tempestades de vento e mar
descontrolados
razões
que te levam a cobrir
memórias escapes de fugas
como figos maduros
invasões dos sentidos
queridos
após a seiva que te corre nas veias
por entremeio de teias

.rasgaste o negro da sombra
na luz que tomba
sonhada em dias de luar

.carícias de sol
amar
amas assim
leves aromas de cor
oscilantes tentações

.queres
os passos dados
de volta
revolta
atordoas
te

.dardos disparados como tiro ao alvo
na nudez de corpos mudos
em toques

.sentes des mentiste
reuniste
te
nas peças caídas arrumadas com zelo
na mesinha de cabeceira que tacteias
às escuras
rastejando pelo chão
quente

.ten
tas
escapar
ar
no ar
que respiras
rarefeito
inspiras
um suspiro calado
na penumbra
como ecos sem ecos que ecoem
tempo morto reanimado

.ar
arriscas
um só dia
e mais um
sem noites que calem o silêncio
mudo
ensurdecedor
ecos mudos

.spin around
and round
como a terra que gira
em vénias de luares
escondidos
pelo sol.

Monday, April 14, 2014

.procuram.te.

photo copyright IGarcia

.circundam corpos
à procura de corpos
outros
a mais
que queimem o tempo que corre
entre nós
vagueiam sobressaltados
vagueiam ventos e mares de terras desabitadas
tumultuosos esquecimentos da demora

.corpos à solta vagueiam
tempos de outros tempos
de palavras
soltas
reviravoltas
procuram
escarpas a partilhar
relances de oportunidades em conversas
desabafos
despejam sentidos sem sentido
procuram a fuga dos dias
ruas apinhadas de voluptias
não são
uma palavra
olhares
sorrisos que permitem
se permitires
encontrarem
te
fugazmente num qualquer recanto partilhado
corpos que vagueiam
volteiam confusos
na confusão do ser que
seriam
papel pardo a embrulhar castanhas assadas
meia dúzia a três
seis a dobrar prazeres

.circundam corpos
à procura de outros corpos
feitos palavras e sorrisos de segundos
restias de tempos a serem
ventos incapazes de serem

.semicerro os olhos
não ver
vejo
seres desencantados
à escuta
permutas dos sentidos
não vejo
a fuga do teu viver
escuto
escolhas a adorar altares
figuras de estilo metamorfoseadas
meta
morfoses
sem meta
não vejo
já não vejo
figuras de premeio a envolver memórias
foste ontens
em soldo de feiras em pregões gritantes
oferecem
se
dois cêntimos
três regateados

.tontos corpos que procuram corpos
danças de chuva e vento rugem
sob o sol acima do mar
sem ondas
já sem
já...


Wednesday, February 05, 2014

.a sala.vazia.

Copyrights IGarcia

.ouço o barulho dos carros lá fora. não ouço. ao longe talvez. passa um. meia hora depois outro. é madrugada. aqui nesta sala vazia não vazia de móveis. não vazia de vida. vazia apenas. cheia de silêncio. tudo dorme. eu não. não eu nesta noite feita de silêncios tais que quase que te sinto aqui. tu aqui. e no entanto ninguém. não ouço passos. todos dormem. eu não. tu não. onde quer que estejas. tu não. uma mensagem há pouco. não dormes. dou comigo a povoar este silêncio feito de sons e palavras. e um comboio o primeiro da manhã que passa ao longe. lá longe onde não estou. nem tu. e gosto desta calma aparente que é a noite. a noite já quase dia sem ser dia. meia noite meio dia. madrugada. não faz sol aqui. não aqui nesta sala vazia. de sons de gentes de passos de palavras. tão cheia de sons de gentes de passos. que não durmo. sempre que choro tu existes. pergunto-me porquê. não sempre que choro que eu já choro pouco. sempre que sinto. isso. sempre que sinto apareces sem aparecer, entendes? Eu não. talvez não ou talvez entenda que o silêncio de que me apercebo nesta sala vazia de gentes e passos tem palavras e sonhos e sentires e dúvidas. tantas.

.de repente quase achei que estavas. pareceu-me. assim à porta a sorrir. não te vi. senti. te.

.logo hoje ou já hoje que cheguei a uma conclusão. mais uma dúvida. és importante para mim. e o mar a romper o areal turva-me a visão. e depois. depois a ressaca. e tu. quero. só queria. tu e o querer. apertos. de coração. de braços. abraços... e ele. importo-me. importas-me. e uma onda queda-se e finda no muro que separa o areal do cimento. e a certeza quase dúvida. a incapacidade de acreditar que nos amam. que gostam. apenas porque sim. porque sou eu e não tu ou ela ou aquel'outra. outros. incapacidade de... quando a perdi? perdeste-me ou perdeste-te.

.estás aí?

.e o silêncio nesta sala vazia não de móveis não de calor. de passos. pessoas. carros que passam lá fora e entram pela janela. e comboios que saem dos carris rumo à cidade. à cidade das rotinas do trabalho da vida que existe sem nome. para que serve um nome? para nomear. existir. sem nome não se existe? não existes? que importa um nome. o teu. o meu. sei que és. sei que sou sem precisar de miradas ao espelho que reflete ilusões. existimos ainda que por vezes sem existir. aqui neste silêncio da noite não se existe. apaga as luzes. não existes.

.um carro passa lá fora. motores em surdina calam bons dias. calam-se. ao longe. e aqui nestas quatro paredes que me cercam sei que já foste dormir. lá longe. é longe o tempo de nós. foi longe a noite que acordou sem sol e a lua para sempre ficou a iluminar este recanto feito pensamentos. todo ele pensamentos e ondas que rompem o areal e batem nos muros de cimento turvam-me a visão. e o bater do meu peito conta as horas. segundos. sem som. e quase que podia jurar que aqui estavas. à porta. a sorrir. à espera do abraço. igual ao outro. não poderia ser diferente. nós sem som. a sala vazia. um avião que segue o rumo. eu na trajectória dele. do avião. levou-te. ele e tu. e a sala vazia. de som. passos. não palavras.

.de nós.