Monday, September 07, 2015

.suspenso.




esqueceste-te
que os dias são
devagar
em ti
passam no vagar
das horas
contadas em segundos
ecos
gestos de afazeres ditos
rotinas de automáticas castrações
do tempo.

esqueceste-te
que os dias vêm
devagar
contigo
e nos segundos que separam
a noite do dia
guardas o grito mudo do sim
amanhã dois
minutos param
sustem
te
o tempo
e a respiração:
- os dias vêm para te ver passar
guardam ilusões no peito
e chuvas mornas de alecrim
doces tentações de volta e meia
três centavos a rodada
fica
mais uma
palavra que não se diz
diz-se que o teu sol é louco
e a noite teus abraços
mas esqueceste
o vagar dos dias suspensos
na bruma que te envolve
ternuras de cores mil
tatuadas no peito
de ti
em ti
no peito
és tu
no vagar dos dias
tu
a tombar devagar
ternuras mil
desenhadas ao pôr do sol
minutos segundos
são
devagar.


Monday, August 10, 2015

.o segundo em que páras.




.o segundo em que páras
é aquele
em que escutas
te escutas
a contemplar templários
de ti
terraços de imensidão vã
cheios de tudo
tudo em nada
o ar
cheio
abstém inspira
o O e o dois
a ser um e O
gira
tudo e nada
vão de nada
vão
suspiros que se devoram devagar
e no ar partículas de ti
tu suspensão
colhem-te as cores
arco-iris de ti
tu suspensão
são
tudo
largos espectros
de ti a ser
mas
mas há um segundo em que páras
para
o ontem e o amanhã
páginas utópicas que viras
2 e dois
rascunhos do belo
corres
pára só
pára só um
só um segundo
o O e dois
um e tu
tudo jamais nada
partículas de ti
espectros de histórias que não se contam
o segundo em que
para ti
pára em ti
é aquele em que escutas

escuta
um rascunho
corre de ti
em ti
ontens e amanhãs
shiuu
pára
tudo jamais nada
suspiros que se devoram
demoram
como farófias
moldes tendenciosos e vulneráveis
e contas
contas noves fora
um
século de mar corre em ti
a parar
pressas
escuta
o silêncio
tu e tu dois noves fora
um
sussurro
milénios de paixões
contam histórias da carochinha
a quem passa
fica
mas escuta
só uma vez
as palavras bastam-se
bastam-nos
aqui
por aí neste espaço feito rua de betão longínquo
nós
tudo é
o segundo
rascunhos
um
a beleza que se inspira
no segundo em que para
páras
tudo é
o segundo em que páras
é aquele
sim este e o outro
é
aquele em que te
tu és.


Monday, July 06, 2015

.lullaby.




Elevo o espanto
à qualidade de intempérie
quando as nuvens se movem oeste
ou este
sul sem norte
a amanhecer
fusões loucas que te tocam
lullaby adormeço
meço
dias de passos dados
saltam tropeçam
volteiam
embaraços de murmúrios
sorrisos desfalecem em ti
preenchem espaços vagos
tontos regaços
formas tuas
onde nos perdemos
em vida
onde nos
nós regaços
onde embaraços
volteiam
sorrisos
desfalecem murmúrios

Elevo o espanto
à qualidade de intempérie.


Thursday, April 23, 2015

.sem demora.





vem devagar
no teu sonho consumido
cinza pó mate rasteiro
guardado d'outros dias

Vem suavemente
suspirar canções de mitos d'outrora
caminhantes de mãos dadas
cruzam lugares que são ontem
mas não venhas tarde
as demoras que foram não ocupam espaço
o vento muda e ergue-se na bruma
dias que entardecem e esquecem

vem
mas sem demora
devagar nos teus passos
enquanto a espera se desvanece
dobra a esquina e desaparece
em horizontes de memórias que se esquecem

vem mas vem devagar
nos dias trôpegos sonâmbulos
porque amanhã foi tarde
e hoje vou passo a passo
entrelaçar mãos que se tocam
a ser ventos cruzados
apenas vento
que leva e traz passageiros mil como eu e tu

vem mas vem na bruma
assim desvanecido no mar
em ondas que toco e trago comigo
a ser mais que ontem e que tudo o que vês
fecha os olhos e sabe
que o mito que acreditas hoje
é sonho de notas musicais que se escoam
em pianos desafinados compassos mil

mas sabe que
venho aqui dizer
te
que sou bruma passageira de ti
enquanto esperas volvi
e quando vieste
demorei
um segundo
dois
suavemente em ti
mãos que se tocam
e ficam
como nuvens de céu limpo
não se vêem
sente a chuva que caiu
e o corpo que foi teu
a alma que não te viu
é agora uma estrela no céu.



Monday, January 26, 2015

.rumo(res).




Alegorias como escape
de órbitas perdidas
céleres orquestras de fim de tarde

Alvores da manhã
esquecidos nos dias
antevisões cercadas de louvor

Falham os silêncios
e as palavras ditas
vaivéns de saídas como torpedos
a tombar
satélites à deriva
infinitos traços a dissolverem mitos
calam as fugas das insónias trôpegas
como caminhantes de veraneio
se molham à chuva a perderem horizontes no olhar.