Tuesday, October 28, 2014

.queda livre.



há subúrbios decadentes onde te escondes
a correr atrás do inimigo
passadeiras estáticas a trazerem-te ao ponto de partida
iludido pela razão
dás a mão sem escolha
tiveste
chão

em palavras mansas enternecidas
embrulhaste doces roubados
na esquina perpetrada pela luz dos dias
trancado a sete chaves sorriste
levianas tentações
enganos ao desbarato
feitos espinhos
rosas escarlate
em suspiros de alecrim
tatuados na pele tépida que abraças

há subúrbios gemidos de ti
encerrados a cadeado
perdem os dias
soluçam perdão
como lacaios súbditos que s'arrastam
p'la cidade neutra em cor
sem cor
sons trepidantes em tonturas
vertigens de ti esbarram em muralhas
pedra a pedra desconstróis o túmulo
jazigos de outrora encerram orgulhos
do que foste

e subiste ao cume mais alto da cidade
onde o vazio te invade
mais uma vez
e outra
talvez hoje
amanhã
talvez depois
peças
perdão
mas hoje não
há subúrbios decadentes onde te escondes.


Saturday, October 18, 2014

I can take the World in my hands




i can take the world in my hands
e nos meus bracos ser
um futuro sonhado
dia a dia
no passo cambaleante
dia a dia
firme e inerte névoa de semblantes fechados
vapores em esgares sorrisos
na manhã de um anoitecer tardio
em horas desavindas com o tempo

i can take
i can take the
i can take the world
hoje
e talvez amanhã
amanhã
acordar nos teus braços
perpetuar juras de amor eterno
em ternuras ditas no vagar dos dias
interrompidos pelas chuvas intermitentes
intermitentes
chuvas
a embalar sentidos
palavras doces sussuradas ao luar
pernoitas de longínquas manhãs

i can
i can take
you in my world
hold you
hold you in my
abracar-te assim ficar
suspender os segundos que correm sem pressa nas horas que contam minutos
sem contar
inconscientes criaturas mecânicas
lânguidas cores nuances de som

i can
we can take
You can take me
in your...
hold
hold on
hold on me
hoje amanhã e depois
sermos danças de sombras perenes
adivinhas de mistérios que não
existem
em braços de abraços que protegem
do frio
acalentam amores maiores
como eu
e tu
no jardim abandonado
só nosso
só jardim
nosso
e sabes
o baloiço de ontem
foi hoje teu
meu
e sabes
o que perdi ontem
encontrei
na manhã
vadia vereneante perde-se no dia
e a noite cai
sem mim
mas
i could
i could take
tu sabes
o mundo
teu
de norte a sul
meu
foi ontem talvez amanhã
e hoje
só hoje.


Thursday, October 16, 2014

.per.te(n)cer.

©Peter Nestler


e sou pela liberdade
a incessante ilusão do primeiro mundo
terceiro som inaudível da ilusão
e sou pela liberdade
encarcerada jaz dormente
cunhas de milenares paixões
em saltos de invernos caídos
imersos na lívida sensação
de estar
estás
ali algures na pétala caída
folha outonal perpetuada na tua glória
e apregoas tentações
desacreditadas no dia a dia fundido de maleitas
que tais brutais pontuações
em jogos e cantigas de amigo
um
dois
volta e meia cai
três quatro
lê a fuga do chão
a porta no chão
 encerrada
perda de luzes acesas noites por apagar
apaga os vultos da lembrança
longas conversas de luares inauditos
erguidos reis e rainhas

e sou pela liberdade
porque piso este chão encerado
de madeira pinho raro da Patagónia eleita
e ergo o estandarte do não ser
a ser por completo
poema por terminar
como prosa que se assemelhe a
música galgada de espanto
notas a contra senso
contrabaixos ecos
ecos...

e sou pela liberdade
do senso comum que não existe
existe por aí e talvez aqui
em cartas escritas
sem selo
de colecção
e sou pela liberdade
como gota a gota flamejante
tropeça no vão derrame de
verborreia dos sentidos
mas
tu és pela liberdade
e cantas ao acordar
histórias de adormecer
embalas sentidos
promessas feitas
noves fora
tudo
mas sou
somos
fomos
liberdade
somos
chão de notas outonais
folhas cadentes invernais
a gritar glória a vós
risos discretos na foz
calibrada em modo platina
medalhas em pódios vazios
na cidade
a incessante ilusão do primeiro mundo.