Saturday, May 17, 2014

.cinza.




.o vento ruge lá fora numa dança feroz. contra. encontra tempo. solta-se. uma angústia. apertos de outrora. acordados novamente p'la chuva que cai. olhos que se fecham não querem. e o vento ruge lá fora como o rumo dos ponteiros a seguir caminho. para a frente. andam. caminhos. buscas de olhares avessos. reflexos que não se ouvem. clareiam memórias. e silêncios. novamente. o silêncio e a memória que não finda. papéis soltos vagueiam ao toque na penumbra dos dias suspendem respirações em falta que faltam. preenchem espaços vazios. novamente vazios. a entreterem esperanças como crianças que brincam despreocupadamente e adormecem no teu colo. dão-te colo. novamente colo. e murmúrios de vozes acesas de candelabros oxidados toldam as horas. e a chuva cai. como pétalas caídas que não voltam a ser. não volto. revolver a penumbra das cinzas que abandonaste. guardaste na caixinha de cobre reluzente a acumular pó. pó mais cinza. cinza como pó. tu cinza. 

.e o vento lá fora ruge com maior intensidade vogam as folhas de papel jamais escritas ao sabor do presente sem presente que se dê. não me dou. novamente não me dou. e a porta fecha-se. sozinha. dentro de mim a tempestade trovões e luares encarniçados esbugalhados olhares comem torrões de acúcar para entreter o tédio. ébrio desfalque na enseada feita razão em corações que já não. já não suportam sustos de ventos a rugir marés tumultuosas que gemem. 

.cortinas esvoaçam numa dança a dois. os pares. sempre os pares. a dois. novamente a dois. díspares encruzilhadas e lamentos desnecessários. seguem as horas paradas do relógio inalterado p'la chuva da memória. chove lá fora digo. está frio. vento. portas a bater marcam os segundos e o tempo que não existe. não existes. sabes. o ar que não sentes inspira-te exaltações. e feres a vista com desaires imaginados. feres. não sentes. novamente não sentes. como pétalas caídas que não voltam a ser. não volto. tu cinza. cinza como pó. que o vento leva agora.






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