esta doce ilusão traída
viram-se avesso contrastes e idas sem saída
foram cercas que puseste em torno de ti
vogaste ao rubro milhões de anos
noutra vida caçaste aves douradas
vendias as penas ao desbarato
na certeza de viveres para sempre
anos e anos
saltastes estacas onde tropeças hoje
caminhante na lucidez que te faltava
e numa queda demente arranhaste o céu na petulância
que foste
e agora
agora és uma inútil pegada
mais uma
no chão que percorreste em fugidios amores cautelosos
na traição emoldurada soltas gargalhadas
cobiçaste a vida sem 'nim' e assim assim
nem isto nem muito ou pouco
eras tanto
e tanto te eram eles
os outros
caminhas tonto no carreiro da fuga de ti
e a vida é isso
é isto
virado do avesso
um desencantamento ausente atordoado em faltas
em certezas de ser mais
quase tudo
jamais nada
nada se impõe neste rubor de despedidas
e olás que saltam à vistas em fugazes olhares
espelhos
ilhas que se tocam e seguem
o rumo das ondas e das marés
e amanhã
numa outra vida
serás mais
que esta doce ilusão traída.