Tuesday, January 31, 2012

...(un)touchable



...como pude eu acreditar que te poderia ter só para mim
perpetuado num abraço
trocas íntimas de carícias a demarcarem a noite
noites dias intemporais
contigo em mim
eu em ti
promessas de ilusões
esfínges de outrora que me rasgam a pele
torturam as escaras da morte em amores que jazem na roleta da sorte
qual recanto enamorado em imaginações de adolescentes a acreditarem na vida
e no amor

...quebraram-se os corpos em jazigos cá dentro
a soluçarem na rouquidão da palavra
odores em toques a queimarem a pele
sílabas soltas em frases feitas a gelarem-me os sentidos
já não sinto
não quero mais sentir
sentir-te
assim
numa dor sem fim de horrores onde fui feliz
nas projecções de um dia
talvez um dia
sermos
somos seres invisíveis intocáveis ao olhar
incalculáveis quedas da ribalta em altares despidos do nada
ocos trespasses de fala
falas
a definharem nos minutos em sangue nas linhas da minha mão
e tu
tu caminhas pedante
e eu
eu caminho errante nas risadas de estradas que fazem o caminho
de horrores clamores ditos amores
desfeitos
enleites de venturas
ternuras
seriam um dia
talvez um dia
a colheres os frutos da agonia
às escaras da sorte
consorte de morte a flutuar de recantos inóspitos nevoeiros

...como pude eu acreditar que te poderia ter só para mim
nas projecções de um dia
talvez um dia
sermos.


Wednesday, January 25, 2012

...sand marks



as migalhas perdidas no chão de pedra a fazerem-se caminho por entre as sombras pedantes a atravessarem os trilhos nas palavras ditas em cárceres de imaginações ocas a preencherem os espaços vazios ecos de vozes distantes

...acreditei
faz tempo que acreditei
disse-te ao entardecer as promessas que desfiz
por ti enquanto corrias ao longe cada vez mais perto a fazeres-te cumplicidade de ironias
...acreditei
a tropeçar nas pedras do caminho que ias deixando a pairar em mim
dentro de mim
a imaginar ondas de calor entre nós
encontrei
a razão que me trouxe a ti
até aqui
sem ti
a cair aos pedaços desvanecendo o negro onde habitas

...sei
eu sei meu amor
que em dias de torpor e ventos sombrios
a espera é coisa derradeira e atroz
...sei
eu sei que dei demais fui demais quis ser ainda mais
a imaginar o livro dos nossos dias tingido com as cores do arco-íris
eu e tu
nós
sem estarmos sós nesta imensidão que é o mundo
tão pequeno
rasguei o hábito e a toga ao vento
a fúria aos olhos egoístas reflectidos nas ondas do mar
em múrmurios onde me perdeste
te perdi
a ti e outros tantos
a contar migalhas na palma das mãos
como pedintes nas ruas desertas
pombos famintos de louvor em gritos de tonturas inalcançáveis

...sei
eu sei meu amor
faz tempo que acreditei

...disse-te ao entardecer as promessas que desfiz
por ti enquanto corrias ao longe cada vez mais perto a fazeres-te cumplicidade de ironias.


Friday, January 20, 2012

...mis(sing)



...trago a noite nas algibeiras
a cantar o fado que se perdeu nas ruas de alfama
e as ausências feitas aqui gritam em exclamações de amor
porque foste para lá onde não te sinto
cumplicidades de outros tempos pairam no ar que respiro
aqui por aí
calam a tontura de saber
ler
não ter
as linhas em recaídas nos batimentos de paragens cardíacas a contar os anos na palma das mãos.

...trago a vida nos bolsos vazios a soluçarem de morte
desbotados rasgaram o tempo de ser
jogos de sílabas toque e foge decadente em infâncias de crescidos a pedirem esmolas
mascarilhas de guerras à desgarrada desmitificadas pela cadência do olhar
que já não olha
não olhas
viamos
viamos-nos no correr dos dias a parar devagar encantado de mitos a viverem o auge da cor
viagens memorizadas no peito
onde se calam os tempos
os outros tempos
aqueles
das estrelas cadentes e guitarra na mão
como a dança que faziamos à beira-mar em luares que se seguiam a dias iguais
e noites
sorri
a censura faz-se tarde quando não há nada para censurar
cumplicidades
aqui por aí
calam a tontura de saber que...

...trago a noite nas algibeiras
a cantar o fado que se perdeu nas ruas de alfama.



Sunday, January 15, 2012

...poison



...o que me consome no vagar dos dias
assim aos solavancos devagarinho és tu que me ouves de entremeio pelas palavras sem sequer entenderes que o que se esconde agora aí por detrás do véu que nos cobre na imensidão do saber e do sentir
é o silencio que nos tolhe e cansa a alma fragmentada de velocidades intempestuosas a tombar assim aos solavancos devagarinho na fúria dos dias onde finda a história que lemos nos livros de fel em resquícios de cetim resgatado nas montras de louvores passados
golpes em fá sustenido e solfejos de maiores sonhos na memória
promíscuas linhas em esboços de futuros entendimentos
cala
cala o louco grito de ti em mim devassado pelas escolhas e esperas intermináveis
fecha
fecha a porta sem trinco que te acolha no vulto do negro
vazio
o quarto o copo o mundo sentado naquele banco à beira-mar que tu
e eu
tu e eu corremos no sal das pegadas que deixámos para trás
em certezas de fulgores despidos do nada
nada
antros de gloriosas loucuras ao pôr do sol
ânimos de consortes a embalarem-nos
os sonhos
mas assim como quem diz preciso de ti
e tu de mim
e dos dias a correr sem saber que seria assim
o que me consome no vagar dos dias
assim aos solavancos devagarinho és tu.

Thursday, January 12, 2012

...for/got


...acreditar na razão com a certeza feroz de quem não teme nem temeu nunca a ilusão caiada no peito
na vista turva de olhos vendados em dúvidas de deleite a serem esquecidos por mais um dia
tropeçaste na fuga do outro em caminhos que não eram os teus a assombrarem-te hoje e amanhã as noites em sonos de insónias a palpitarem nas palmas das mãos sorrisos de encostas derrubadas por um sorriso
deténs
tens o pedaço de terra que te convém delineado em traços esbatidos de letras desarmadas em esforço
esforços de rumores cantados nas noites frias em fados vadios de bares sobrelotados na rua da escória
vultos a cruzar a tinta dos dias
sobrepõem-se na imponência da arrogância dos teus olhos
sabes
a chuva que cai la fora fica dentro de mim em vazios de notas soltas compassos de espera
sei
a luz o sol a vida trespassa-me a cada segundo que passa e leva um pedaço de ti
e eu
eu escrevo naquele papel já amarrotado de anos idos
procurando a linha que siga a conduta
que sigas
por entre encruzilhadas e semáforos inertes a pedirem-te vem
vai
e a chuva cai
e a vida escolhe de entre as cores a cor que te cerca
abraço carente de mais um espaço
sim
fica
no mapa dos dias em papeis amarrotados largados na estante de cinzas e odores
o que não escrevi
és tu

...sabes
a chuva que cai la fora fica dentro de mim em vazios de notas soltas compassos de espera.



Sunday, January 08, 2012

...(a)calma



...apagaram-se as luzes como um strob incandescente que veio para ficar
sem que te apercebas da ausência de cor
em monocromáticas conversas a vaguear nas ruas de faces ocultas pelo frio da demora
e ventos que consomem as escamas na pele torturam os pensamentos desarticulados
como homens sem vida a caminho da forca
miram-te a escarnecer os dias
na total ausência de voz
vozes que cambiam sorrisos e trocam urros à passagem
silêncio
a calma veste máscara
incolor
indolor à superficie que te tatua por dentro a nostalgia
e a cor
amor
a vida a saltitar nos jardins de encantos
suspiras
revês relês escutas demoras-te... pensas
lês vês ouves queres saber porque o tempo se calou faz tempo
no sol dos teus olhos a refletir ilusões nas ondas do mar
luas que se atropelam
noite após noite em cronómetros desconcertados
pecam as memórias
fugas rumores histórias
como livros em saldo nas bancas esquecidos...

...apagaram-se as luzes como um strob incandescente que se queda nos olhos teus
ao espelho de mil pedaços que quebraste na fúria de achares que a realidade era mais do que isto
e aquilo e aquele-outro trejeito sem jeito a fazer de conta fugaz
inoportuno
silêncio
a recarregar baterias nos fachos que persegues às mãos do vândalo catalogado a preço de nada...

...larga a ilusão
a calma veste máscara.

Sunday, January 01, 2012

...quer(er)



Por aqui se tecem as cores do que foram dias de raiva contida em tensões desumanas de humor negro
rasgos de memórias de sonhos guardados sem temor que sustivesse as cinzas perdidas ao vento
embala agora a trôpega escória dos tempos idos
abandonos imperiosos que a prioridade grita na sombra dos dias esquecidos por ti
e queria
eu queria tanto
tanto sorria por querer o sol nas telas com que te esbofeteei sem piedade ou amor
e agora rio
rio em gargalhadas soltas
porque a loucura é um traço longínquo que ressoa em eco
ecos que se eternizam
amenizam os vagares de sombras atordoados na multidão
que se desfaz em becos imundos de obras de arte nas paredes e cheiro a bafio
uniões de segundos em linhas trocadas
como lojas de 24h em vultos de standby

...e queria
eu queria tanto
e tanto queria que não me continha em pranto
tu e o encanto
da chuva nos vidros de carros em chamas a percorrer autoestradas ao céu
e a minha palavra fica aqui
fechada a cadeado debaixo do marfim em forma de corpo
aqui
em mim que te tenho em solidões de agosto à noite

...ecos que se eternizam
amenizam os vagares de sombras atordoados na multidão.